Para além do eixo carnavalesco tradicional, Belo Horizonte viu essa festa popular crescer nos últimos anos e ascender ao cenário nacional com a força do bloco. No entanto, em 2022, isso não será mais o caso nas vias urbanas. Com isso, os grandes quarteirões precisam se adequar aos protocolos exigidos pela prefeitura.
Neste ano, sem a festa das ruas, a folia de BH terá eventos privados, alguns com nomes famosos da música nacional e ingressos com valores mais altos, e outros eventos mais populares, com atrações ligadas ao Carnaval local.
Segundo Rodrigo Boi Magalhães, fundador e regente do bloco Juventude Bronzeada, a possibilidade de participar de eventos nessa época é positiva, mas não substitui a energia característica do Carnaval.
“A potência do Carnaval é a rua, que é acessível para todo mundo, é democrática. Todo mundo consegue brincar e também trabalhar, então faz muita falta, profissional e afetivamente”, diz ele.
O bloco Juventude Bronzeada reúne milhares de pessoas na terça-feira de Carnaval para celebrar a música baiana. Os tradicionais ensaios da bateria, com mais de 400 ritmistas não acontecem desde 2020. Apenas a banda que acompanha o bloco se apresentará em eventos na cidade.
O Funk You, único bloco com repertório exclusivo de Funk em BH, teve um crescimento muito grande desde seu primeiro Carnaval, em 2017. Em 2020, mais de 250 mil pessoas acompanharam o desfile do grupo.
A partir do bloco, surgiu a banda do Funk You, que se apresenta durante o ano em festas de casamento e formaturas. Segundo Lucas Moraes, diretor do bloco, a procura pelo trabalho da banda está menor que em anos anteriores, quando as festas de rua aconteciam na capital e nas cidades do interior.
O impacto financeiro de mais um ano sem o Carnaval é grande, porque o bloco deixa de receber patrocínios, de ter visibilidade na mídia e de produzir eventos que geram renda.
O bloco Faraó deu prioridade para se apresentar em eventos gratuitos neste Carnaval, em diversos bairros da cidade. Para a diretoria do bloco, o impacto sentimental pela falta do Carnaval é ainda maior que o financeiro.
O Faraó é formado por 600 integrantes e cerca de 150 terão algum tipo de apresentação no Carnaval. O bloco foi um dos poucos da cidade que conseguiu manter uma rotina de ensaios, quando os dados epidemiológicos estavam mais favoráveis.
A banda do bloco Quando Come Se Lambuza também tem apresentações marcadas para o feriado. No entanto, são apenas oito músicos, enquanto a bateria completa tem mais de 220 ritmistas.
De acordo com André Melado, fundador e mestre de bateria, não foi possível realizar ensaios com a formação completa neste período. Em anos anteriores a bateria era formada em agosto e participava de ensaios até o carnaval.
O bloco Havayanas Usadas também tentou retomar as atividades em 2021, no entanto, com o avanço dos casos de Covid e de gripe, a decisão foi repensada.
Neste ano, a banda com dez integrantes fará apresentações, porém em escala muito menor que no Carnaval tradicional. Em 2020, o bloco levou cerca de 300 mil foliões para as ruas e gerou mais de 400 empregos diretos.
Segundo Geison Almeida, presidente do Então Brilha, o bloco é um acontecimento que só existe uma vez por ano, no sábado de Carnaval e nas ruas de BH. Por mais que a banda que acompanha o bloco seja convidada para se apresentar em eventos, são coisas diferentes.
O bloco surgiu em 2010 e participou da movimentação política pela retomada do Carnaval de rua na capital mineira. “Um dos objetivos do movimento era fazer blocos de Carnaval para pensar na rua como um espaço lírico a ser ocupado pelas pessoas”, diz Geison.
A cantora Aline Calixto criou o bloco da Calixto em 2014 e percorre as ruas de BH sempre no sábado de Carnaval. Neste ano, devido à impossibilidade de estar na rua, ela vai fazer uma roda de samba na mesma data, com público reduzido e seguindo os protocolos vigentes.
“A gente tem consciência de que colocar um bloco do porte do bloco da Calixto na rua hoje é inviável. São centenas de milhares de pessoas aglomerando e ainda não é o momento de fazer isso”, diz a cantora.
Segundo ela, em períodos normais, o bloco reúne cerca de cem trabalhadores. Neste ano, o número foi reduzido para 15. O público também diminuiu. Em 2020, a cantora levou cerca de 350 mil pessoas para as ruas. Neste ano, os ingressos foram limitados e se esgotaram em uma semana de vendas.
“Em 2023, eu acredito que a gente venha com muita vontade de se divertir e de fazer o Carnaval acontecer. Espero que o poder público e o segmento privado estejam conosco, para realizar uma festa bonita, para todas as pessoas, como sempre foi o espírito do Carnaval de BH”, afirma Calixto.
Segundo representantes dos blocos, em Belo Horizonte não houve um auxílio específico para os profissionais do Carnaval. Muitas pessoas do setor precisaram migrar para outras áreas para se sustentar durante a pandemia.
A prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Belotur, disse reconhecer a importância do Carnaval e os impactos de sua não realização. O órgão afirma que está trabalhando em editais que atendam às demandas da cadeia produtiva do Carnaval.
“O formato e valores desses editais estão sendo discutidos em reuniões com a Comissão do Carnaval, mas ainda não foram definidos. Os editais de fomento ao setor têm previsão de publicação para a partir de março de 2022”, disse a Belotur, em nota.
A prefeitura não apoiará financeiramente nenhum evento no Carnaval de 2022 e não terá ponto facultativo durante os dias de Carnaval. A decisão foi pensada para evitar aglomerações e foi orientada por nota técnica do comitê municipal de enfrentamento à Covid.
Via: www1.folha.uol.com.br