A maior parte da bacia, 54%, está em Contagem. Os córregos Sarandi e Ressaca representam, segundo a Copasa, 70% do volume de água despejado na lagoa da Pampulha.
Muitas águas dão vida à lagoa da Pampulha, e elas estão além do que os olhos conseguem enxergar. Fazem parte de uma bacia hidrográfica com área de 97 quilômetros quadrados. Uma grande caixa d’água formada por duas cidades: Belo Horizonte e Contagem.
São 44 córregos, sendo que oito deles deságuam no reservatório: Olhos d’Água, AABB, Braúnas, Água Funda, Sarandi, Ressaca, Tijuco e Mergulhão. Eles alimentam o lago, mas também trazem todo o tipo de poluição.
“A água circula por todos os territórios. Tem cabeceiras da lagoa da Pampulha que estão praticamente no fundo da BR-040. Então, por exemplo, uma construção que se faz ali, jogando terra, fazendo aterramentos, faz com que toda essa terra sem nenhum tipo de contenção caia num afluente e, do afluente, venha para a lagoa”, afirmou o coordenador do projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais, Marcus Vinícius Polignano.
A água que lava a terra leva lixo pela rede pluvial. A sujeira percorre muitos caminhos, vem de longe.
A maior parte da bacia, 54%, está em Contagem. Os córregos Sarandi e Ressaca representam, segundo a Copasa, 70% do volume de água despejado na lagoa.
Parte da raiz do problema está na cidade que cresce desordenada. Vilas e favelas são locais onde a rede de esgoto até passa, mas nem sempre chega até as casas.
É o caso do Beco da Coruja, em Contagem. Os moradores improvisam, jogam o esgoto na rede pluvial. E essa água vai para o córrego Sarandi, que deságua na lagoa da Pampulha.
O crescimento de Contagem se deu principalmente na área da bacia da Pampulha, onde está o maior adensamento populacional.
Do outro lado fica o reservatório Várzea das Flores, responsável pelo abastecimento de pelo menos 12 municípios da Região Metropolitana – um espaço onde a construção de casas e a ocupação do solo são controladas. Boa parte do entorno é área de preservação ambiental.
Mas o lado da bacia da Pampulha não recebe a mesma atenção, o que pode custar a vida deste patrimônio natural. A secretária de Meio Ambiente de Contagem reconhece que é preciso proteger regiões fundamentais para a manutenção da lagoa. São medidas, de acordo com ela, que fazem parte do novo plano diretor da cidade.
“São alterações de zoneamento mesmo para diminuir um pouco o adensamento dessas regiões”, afirmou a secretária de Meio Ambiente de Contagem, Maria Thereza Mesquita.
A bacia da Pampulha é impactada por uma população de 500 mil moradores. Em março deste ano, a Justiça Federal homologou um acordo entre as prefeituras de Contagem e BH e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que prevê o fim do lançamento do esgoto na lagoa. Os municípios se comprometeram a trabalhar juntos na solução do problema.
“Nós fizemos o plano em conjunto com os dois municípios, onde identificamos cerca de 10 mil imóveis que não estão interligados. Então, o que a Copasa enxerga de esgoto que ainda está chegando na lagoa são provenientes dessas sub-bacias e dessas regiões ainda que não têm rede à disposição. E aqueles que têm rede à disposição e não estão interligados”, afirmou o gestor de empreendimentos de grande porte da Copasa, Sérgio Neves.
Um investimento de R$ 146 milhões. São cinco anos para captar e tratar o esgoto de 9.759 casas. Levar saúde para cerca 30 mil pessoas. A maior parte está em Contagem, onde devem ser feitas 7 mil ligações. A companhia já sabe que a maior dificuldade está em 3.112 casas, que ficam em áreas de vulnerabilidade social.
“São 29 vilas mapeadas, 20 a gente entende que têm condição construtiva de imediato de implantar o sistema de esgotamento sanitário, e isso vai ser feito pela Copasa. Nas nove vilas que a gente identificou que têm dificuldade construtiva, é possível instalar o sistema de esgotamento, mas vai precisar de um apoio conjunto se envolver desapropriação, passagem de rede em terreno de terceiros”, explicou a gerente regional da Copasa, Renata Mayrink Ferreira.
“Grande parte dessas áreas já são providas por redes da Copasa, mas as residências não são ligadas. E muito desse problema é em função de serem áreas de vulnerabilidade, de baixa renda, as quais vão ter que ser subsidiadas mesmo para que as ligações sejam possíveis”, afirmou a secretária de Meio Ambiente de Contagem, Maria Thereza Mesquita.
Os números foram levantados em 2021. O desafio é acompanhar o crescimento urbano.
“Dentro do plano a gente tem um compromisso de uma prestação de contas trimestral. A cada três meses a gente vai elaborar um relatório contendo todas as ações que foram feitas para corrigir rumo”, disse Sérgio Neves, gestor de empreendimento de grandes portes da Copasa.
Os córregos Sarandi e Ressaca se encontram nas avenidas Heráclito Mourão de Miranda e Clóvis Salgado. Depois, boa parte da água é desviada para uma estação de tratamento que fica ao lado do parque ecológico e foi criada em 2002 como alternativa para a despoluição da lagoa. É a única na cidade que trata água fluvial.
São tratados em média 750 litros de esgoto por segundo. Cada litro custa em torno de R$ 0,30. Leva meia hora para transformar o esgoto em água transparente.
“Num tratamento preliminar, a gente retira de lixo aproximadamente 9 toneladas, mais ou menos 18 toneladas de areia. Todo esse resíduo é levado em caçambas para o aterro sanitário de Contagem ou de Belo Horizonte. Depois, no processo a gente tem aplicação de coagulantes e outros auxiliares que fazem a coagulação de toda a poluição, a sujeira, a matéria orgânica. Depois que aglutina, é retirado todo esse material e ele é lançado para a rede de esgoto da Copasa e levado para a ETE Onça para tratamento lá. A água limpa, a gente devolve para a lagoa da Pampulha”, explicou a engenheira da Copasa Clecilaine Santos Rodrigues.
Esse processo é mais eficiente na seca. O tratamento não garante que a água dos dois córregos chegue completamente limpa à lagoa. Acabar com o esgoto na Pampulha é promessa antiga. Foram muitas tentativas.
Em 18 anos, a Copasa gastou cerca de R$ 615 milhões em obras para despoluir a bacia. O número de casas ligadas à rede de esgoto saiu de 62.800 em 2002 para pouco mais de 200 mil em 2022. A rede também deu um salto. Em 20 anos, pulou de 299 para 1.058.
Em um bairro de mansões em BH, o problema é vizinho da lagoa. No Bandeirantes, não há captação nem tratamento. Os dejetos são lançados em fossas.
“Na verdade elas não são fiscalizadas. O cliente faz, ele tem a fossa, e aí nós temos que deixar a rede disponível para ele, para que a prefeitura possa notificar e multar para que ele faça adesão ao nosso sistema de esgotamento sanitário. A regulamentação é que o esgoto tem que ser tratado. Então, não tem como a fossa ser eficiente nesse sentido”, afirmou o gerente regional da Copasa, Gilberto Gomes Ferreira.
Quem acompanha as alterações na bacia da Pampulha diz que é preciso planejamento e um esforço conjunto para resolver o problema.
“Os esgotos não podem continuar correndo para dentro dos córregos porque vão chegar na Pampulha. É importante que todo mundo tome a consciência disso, que o poder público faça políticas públicas que facilitem esses processos de ligação. A Pampulha tinha que ter, na verdade, um planejamento de médio e longo prazos. Nós não vamos conseguir salvar a Pampulha com ações erráticas, momentâneas. Elas têm que ser duradouras”, falou Polignano.
A Prefeitura de BH informou que, neste ano, donos de 22 imóveis do bairro Bandeirantes foram intimados para providenciar a ligação da rede de esgoto. Eles têm prazo de 30 dias para regularizar a situação ou de 20 dias para contestar a notificação.
A Vigilância Sanitária do município esclareceu que, dentro de suas atribuições, verifica a ligação do imóvel à rede de esgoto e ressaltou que, onde há rede de esgoto, o uso de fossas é considerado irregular.
Via: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/05/10/reage-pampulha-fim-de-lancamento-de-esgoto-e-desafio-para-despoluicao-da-lagoa.ghtml